
A União Europeia decidiu adiar a votação do acordo comercial com o Mercosul, inicialmente prevista para ocorrer nesta sexta-feira (19), após a resistência de França e Itália, e passou a trabalhar com a possibilidade de levar a decisão para janeiro.
Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela agência EFE e pelo jornal Politico, o adiamento permitirá que o governo italiano analise com mais profundidade o conteúdo do acordo. O adiamento inviabiliza a assinatura do acordo, que estava previsto para ocorrer neste fim de semana.
De acordo com as mesmas fontes, a postergação da votação e da assinatura foi considerada aceitável pelos países do Mercosul, apesar da ameaça feita pelo presidente Lula, que exerce a presidência rotativa do bloco sul-americano, de que “não haveria mais acordo” caso o texto não fosse assinado neste fim de semana.
Segundo uma fonte europeia citada pela EFE, os países do Mercosul já foram formalmente informados da decisão de não realizar a votação no âmbito do Conselho da União Europeia nesta sexta-feira. Conforme o novo cronograma discutido entre os governos, tanto a votação quanto a assinatura do acordo passariam a ocorrer no início de janeiro.
A assinatura do acordo exigia, como pré-condição, a aprovação por maioria qualificada no Conselho da UE — ao menos 55% dos países-membros, representando 65% da população do bloco. Segundo diplomatas europeus, esse cenário se tornou praticamente inviável diante da oposição firme da França e das dúvidas de última hora levantadas pela Itália.
Nesta semana, milhares de produtores rurais bloquearam vias com tratores nas proximidades das sedes do Conselho Europeu e do Parlamento Europeu, em manifestações contra o acordo UE–Mercosul. Os manifestantes alegam que o pacto permitiria a entrada de produtos agrícolas sul-americanos que não seguem as mesmas exigências ambientais e sanitárias impostas aos agricultores europeus.
A França mantém uma posição contrária ao acordo. O presidente Emmanuel Macron afirmou que o texto “não pode ser assinado” nas condições atuais e defendeu novas negociações em janeiro. O governo francês exige salvaguardas para o setor agrícola europeu, incluindo regras mais rígidas sobre pesticidas e inspeções reforçadas nos portos da UE.
O acordo entre UE e Mercosul, negociado há mais de 25 anos, prevê a eliminação gradual de tarifas sobre a maior parte do comércio entre o bloco europeu e Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, criando um mercado de cerca de 780 milhões de pessoas.

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