Embora remendada, a recusa do deputado Pedro Lucas ao convite para o ministério das Comunicações foi uma notícia ruim para o presidente Lula e a ministra Gleisi Hoffmann, das Relações Institucionais, que endossou o nome. Ao declinar da pasta, o parlamentar causou constrangimento geral e insatisfação no mundo petista. O governo pagou um mico e passou impressão de fragilidade.
Por mais que tenha contribuído o quadro de desavenças e desorientações políticas desse monstrengo partidário intitulado União Brasil (a sigla é mais uma de nossas piadas prontas), o fato é que o presidente foi deixado no vácuo.
O caso levou a crer que a escolha e o modo como transcorreu a tentativa de troca ministerial foram um equívoco. O desgaste também atingiu o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, interlocutor de Lula na substituição.
A trapalhada, além de sua dimensão palaciana, pode ser vista como um sinal dos problemas que se apresentam nesses tempos em que o centrão e a ultradireita transformaram-se nos grandes astros dessa espécie de “parlamentarismo bastardo” instalado em Brasília.
Como observou o cientista político Christian Lynch, o eixo ideológico do poder há pelo menos dez anos vem se deslocando para a direita, sustentado por partidos mais ou menos conservadores e radicais que se tornaram o núcleo de estabilidade e controle do sistema.
O que se chama de centrão sempre esteve aí e vem passando por mutações para se adaptar aos ecossistemas que se sucedem. Hoje é uma associação de legendas e políticos que vai do bolsonarismo mais boçal a uma direita até certo ponto pragmática e interessada em mostrar algum serviço. O principal elemento da liga é a busca obstinada pela apropriação de recursos públicos para interesses paroquiais e privados.
O Congresso do nefasto orçamento secreto, as chamadas emendas de relator e quetais ainda em curso sem a devida transparência, apesar de decisões do STF (Supremo Tribunal Federal), retrata uma cultura política que se degrada na falta de ética e de compromissos públicos. É a velha lógica do fisiologismo, o famoso me dá um dinheiro aí que eu entrego.
Foi o que fez Jair Bolsonaro, subindo (ou baixando) o patamar da coisa, com o intuito de se manter no poder e tentar a reeleição. É o que faz Lula, à sua maneira.
A situação só piora quando se projetam no meio político as expectativas eleitorais para 2026. Há dúvidas se Lula conseguirá renovar seu mandato. Estivesse o petista voando, com ampla aprovação nas pesquisas, o quadro certamente seria outro. Mas não está. Se sua popularidade parou de cair, como indicaram as últimas sondagens, o cenário ainda é complicado.
Os embates entre governismo e oposição tiveram seu peso, mas não maior que a confortável posição de Pedro Lucas nesse pomar de emendas a alimentar seus interesses e currais. Por que sair?
O mal-estar não levaria Lula a reações intempestivas como um rompimento com Alcolumbre —que não fala pelo partido, mas é interlocutor amigo no Senado. A começar pelas sinalizações contrárias à pauta da anistia ao 8 de janeiro, o descalabro legislativo da hora.
A saída veio com o presidente da Telebras, Frederico de Siqueira Filho, indicado a novo ministro das Comunicações. E assim caminha a realpolitik.
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