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Por que estamos vivendo uma pandemia de narcisistas no amor? – 26/03/2025 – Amor Crônico


Será que a pandemia é de “narcisistas no amor” ou de “hiper diagnosticar vilanizando o outro”? Nos últimos anos, “narcisista” virou diagnóstico-relâmpago para enquadrar parceiros como vilões emocionais. Discordou de você? Narcisista. Priorizou os amigos? Narcisista. Disse que seu comentário foi inadequado? Narcisista.

É importante ressaltar que, segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais), apenas 1% da população tem transtorno de personalidade narcisista. Ou seja, aquele checklist de Instagram que você usou para confirmar sua hipótese de que seu parceiro é narcisista pode estar apenas patologizando comportamentos que podem ser nomeados de outras formas. Não digo que não estejam errados, mas se pudermos discutir sobre comportamentos e situações antes de rotularmos as personalidades uns dos outros, provavelmente teremos relações mais maduras, implicadas e possíveis.

Talvez essa obsessão por detectar narcisistas seja reflexo do nosso próprio narcisismo ferido. O narcisismo primário, essencial para a constituição da psique, nos faz acreditar, na infância, que somos o centro do mundo. Aos poucos, a realidade nos ensina que o desejo do outro não nos pertence e que frustrações fazem parte do jogo. Mas nem sempre aprendemos essa lição direito. Cada vez que uma expectativa é quebrada —um parceiro que não responde com o cuidado que esperávamos, um amor que não nos escolhe, um romance que não nos prioriza— essa ferida narcísica se abre. E a reação muitas vezes não é maturidade, mas ataque: “Ele é um narcisista! Ela é tóxica!”

Precisamos ampliar nosso vocabulário emocional. Nem todo erro é um transtorno, nem toda falta de cuidado é um sinal de perversidade. Talvez um dia você tenha sido egoísta, no outro, seu parceiro. Mas se você se vê sempre como a vítima absoluta, talvez aí resida o verdadeiro narcisismo: a crença de que tudo gira ao redor da sua dor.

Acredito sim que vivemos em uma era de “culto ao eu” e esse culto tem sido danoso tanto para o comportamento de seu parceiro —que você rotula como narcisismo —como para o seu— que patologiza, culpa e vilaniza. Mas há uma outra camada que torna o cenário mais complexo: esta é também uma era de “permacrisis” onde nos vemos num estado de “stress pós traumático coletivo”. Neste contexto percebo as pessoas mais autocentradas e autorreferentes, e também mais inseguras e ansiosas. Há os que se defendem desses afetos criando uma persona aparentemente cheia de compromissos, opiniões, conselhos e certezas. Sentindo-se talvez mais insuficientes que aqueles a quem falam, erram a mão entre palavra e silêncio e se atropelam no mostrar, o que por vezes faz com que a forma seja pouco cuidadosa e delicada.

E há aqueles que se defendem transformando as dores do passado em catálogo emocional de possíveis roubadas —assim, quanto mais claro forem os rótulos, melhor. Estas, entendem que se o outro critica a escolha, a crítica é sempre um silenciamento e o silenciamento é um dos traços do narcisista —pronto, colocamos na caixinha. Quando chamamos toda insatisfação de “narcisismo”, esvaziamos o significado dos termos e perdemos a oportunidade de realmente elaborar nossas dores.

Claro que o narcisismo pode ser patológico, e há quem use os outros apenas para inflar a própria imagem. Mas entre o transtorno e a mera falta de cuidado, existe um oceano. E se, antes de diagnosticar, conversássemos? Se nomeássemos atitudes em vez de rotular pessoas? “Fiquei magoado porque senti que não fui ouvido.” “Me incomoda quando você cancela planos em cima da hora.” “Eu esperava um pouco mais de sensibilidade nisso.” Se, ao invés de taxar o outro de narcisista, pudéssemos admitir nossa própria vulnerabilidade?

No fim das contas, talvez a verdadeira epidemia seja essa: a dificuldade de encarar que, em algum momento, todos nós podemos ser egoístas, inseguros, pouco empáticos e sensíveis. E que, ao invés de buscar vilões, talvez seja mais produtivo buscar melhores formas de comunicação.

E se você também tem um dilema ou uma dúvida sobre suas relações afetivas, me escreva no colunaamorcronico@amorespossiveis.love. Toda quarta-feira respondo a uma pergunta aqui.


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