O presidente Lula (PT) deu mais um passo em sua reforma ministerial com o objetivo de promover ajustes na articulação de seu governo com o campo da esquerda. Nesta segunda-feira (5), ele formalizou a substituição da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves (PT), pela também petista Márcia Lopes.
Ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome do segundo governo Lula, Márcia é apontada por apoiadores como uma gestora experiente que, na visão de aliados do presidente, seria capaz de reconectar a pasta com movimentos sociais e apoiadores históricos dos petistas.
A opção por ela se dá em um ano de queda de popularidade do presidente em seus tradicionais redutos eleitorais. Aliados de Lula têm recomendado que ele reconquiste seu eleitorado para a disputa presidencial de 2026, quando deve tentar a reeleição.
Dentro dessa estratégia, voltou a crescer na bolsa de apostas de uma reforma ministerial realizada a conta-gotas o nome do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP). Ele pode ser nomeado por Lula para a Secretaria-Geral da Presidência no lugar do ministro Márcio Macêdo.
A substituição de Cida era dada como certa desde que Lula começou a discutir com auxiliares a ideia de fazer mudanças em sua equipe. De acordo com relatos desses aliados, o presidente vinha manifestando descontentamento com o desempenho da então ministra.
Na visão de petistas, Cida vinha exibindo pouca capacidade de capitalizar, a favor do governo, pautas ligadas aos direitos das mulheres, além de estreitar a interlocução com organizações sociais que representam esse grupo.
Na eleição de 2022, as mulheres foram um segmento do eleitorado considerado crucial para que Lula fosse capaz de abrir uma vantagem sobre o então presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas, tanto no primeiro como no segundo turno.
Aliados atribuem a escolha da substituta de Cida à ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR), de quem Márcia Lopes é amiga. Antes de decidir, Lula “entrevistou outras candidatas” à vaga, nas palavras de um auxiliar. As alternativas incluíam uma parlamentar evangélica e uma liderança de movimento de empreendedorismo feminino.
Márcia já havia dito à Folha que seria nomeada nesta segunda, depois de participar de uma reunião com o presidente.
Três dias antes, Lula e Cida conversaram no Palácio do Planalto por cerca de 20 minutos. Na ocasião, ela saiu sem falar com a imprensa.
Demitida nesta segunda do Ministério das Mulheres, ela afirmou que Lula não alegou insatisfações com sua gestão ao justificar a troca na chefia da pasta.
“Não é uma troca por incompetência, por assédio, por rixa, não é isso. É uma troca de rumo, de momentos. Tem horas em que você está no limite do esgotamento daquilo que pode avançar, ampliar, e gente nova chega com um novo olhar, com uma outra perspectiva”, disse Cida.
Márcia é assistente social e professora. Ela foi uma das coordenadoras do grupo técnico de assistência social na transição para o terceiro mandato de Lula, ao lado da ministra Simone Tebet (Planejamento) e da ex-ministra de Desenvolvimento Social Tereza Campello.
É também irmã de Gilberto Carvalho, ex-secretário-geral da Presidência de Dilma Rousseff (PT) e atual secretário nacional de Economia Popular e Solidária do Ministério do Trabalho.
Durante o segundo mandato de Lula, Márcia ocupou diferentes cargos no Ministério do Desenvolvimento Social, chegando ao posto de ministra em 2010.
No esforço para ampliar a conexão com o eleitorado próximo da esquerda, Lula tem demonstrado insatisfação também com o desempenho de Macêdo. O presidente já conversou com o próprio ministro sobre sua atuação.
O destino de Macêdo deverá ser selado na volta do presidente de uma viagem em missão oficial à Rússia e à China.
Um dos obstáculos para a escolha de Boulos para o cargo está na sua candidatura à reeleição para a Câmara de Deputados, no ano que vem.
Em conversas reservadas, Lula tem manifestado preocupação com o fato de que uma fatia expressiva de sua equipe terá de deixar o cargo em abril de 2026 para concorrer, seja para o Legislativo ou para o Executivo.
Embora a nomeação de Boulos como ministro fosse uma forma de animar movimentos simpáticos a Lula, sua candidatura a deputado é tida como importante para o PSOL.
Por isso, o nome do ex-ministro Paulo Pimenta também tem sido mencionado para a Secretaria-Geral. Por outro lado, segundo aliados, Lula tem dito que gostaria que Pimenta concorresse ao Senado pelo Rio Grande do Sul.
Além dessa vaga, Lula terá que tomar uma decisão sobre o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT-PI). O presidente não decidiu se ele será mantido no cargo, segundo dizem seus aliados. Com uma eventual troca, Lula poderia dar um novo envelopamento aos programas sociais do governo.
Com a saída de Cida, já são 12 trocas na Esplanada dos Ministérios neste terceiro mandato de Lula. O presidente já realizou uma minirreforma para acomodar mais partidos do centrão no Executivo, além de ter exonerado outros titulares por denúncias em casos de corrupção ou por pressão em torno do desempenho nas pastas.
Destas 12 alterações, 9 delas foram por substituições, enquanto 3 foram realocações. No mesmo período de governo, o então presidente Jair Bolsonaro já havia demitido 16 ministros. Já Michel Temer (MDB), que chefiou o Executivo brasileiro após a queda de Dilma Rousseff (PT), trocou os titulares de suas pastas 32 vezes em dois anos e sete meses no cargo.
Lula previa uma reforma ministerial a ser deflagrada para preparar o Planalto para as eleições de 2026 a partir dos resultados no pleito municipal. As mudanças acabaram se arrastando por seis meses, em meio a sucessivas crises no governo.
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