Uma vez o filho de Lázaro Ramos disse ao pai que sentia uma dor na barriga. Lázaro achou que fossem gases. Deu remédio, cobriu a região com panos quentes, e nada do sofrimento do garoto passar. Demorou até ele entender que a queixa do filho não vinha de nenhuma má digestão nem nada assim. Era ciúme o que o atormentava.
Momentos como este, junto a João Vicente e Maria Antônia, seus filhos com a atriz Taís Araújo, levaram o ator e escritor a escrever “Sinto o que Eu Sinto”, livro publicado pela editora Carochinha em 2019 que acaba de ganhar uma nova versão pela Sextante, agora com ilustrações da artista Flávia Borges.
“Meu filho estava com ciúme, mas ele não tinha um repertório para conseguir identificar o que estava dando aquela sensação física nele”, diz o autor, que passou a dar mais atenção a essas confusões quando participou de uma palestra na escola das crianças sobre inteligência emocional.
“Até nós adultos, às vezes, quando sentimos uma coisa, uma raiva, uma inveja, ou então estamos apaixonados, inseguros, não sabemos nomear o que estamos sentindo. Isso tudo é um trabalho de maturidade emocional que a gente vai perseguindo a vida toda. Eu entendi que conversar sobre isso com as crianças era fundamental.”
O livro surgiu lá atrás, como uma parceria com o Mundo Bita, responsável por um desenho animado e por músicas que você talvez conheça. Eles convidaram Lázaro para escrever uma história para o personagem Dan, um dos membros do grupinho original da atração.
Deixaram o autor escolher sobre o que ia escrever. “Fiquei um pouco amedrontado porque senti que a responsabilidade era grande”, ele diz. Lázaro quis contar uma história sobre um tema que considerava urgente, mas sem perder seu estilo lúdico e bem-humorado.
A Folhinha conversou com o autor sobre a dificuldade de falar de emoções hoje, com os celulares e outros aparelhos eletrônicos brincando com os sentimentos de toda a gente, o tempo todo. Para ele, uma solução é dar uma alternativa, a leitura.
“Eu tenho visto várias crianças próximas a mim aumentando características de ansiedade, de tanto que estão ficando no mundo digital. Não olham nos olhos, não têm paciência de ter uma conversa um pouco mais longa sem recorrer a um tablet ou a um celular”, diz. Para ele, não é que seja necessário abandonar os dispositivos, mas é preciso buscar algum equilíbrio e dar espaço para outros prazeres.
“Eu tenho conversado muito com as crianças do meu entorno sobre isso. Digo a elas que, quando estou com um livro, nunca me sinto sozinho. Me sinto mais esperto. Mais do que isso, deixo meus filhos me verem lendo o tempo todo, porque é nesse exemplo também que se faz a influência da leitura.”
Nem toda criança gosta de adulto que está sempre querendo ensinar alguma coisa. Lázaro, no entanto, sabe bem que as lições vêm de um lado e de outro. Com “Sinto o que Eu Sinto”, ele buscou ouvir a opinião dos jovens sobre o que poderia mudar na trama.
“Numa primeira versão do livro, que eu mandei para uma escola, uma criança perguntou por que eu digo que dia de chuva é dia triste. ‘Aqui na minha cidade falta tanta água que dia de chuva é de alegria’. Olha como são as coisas. E eu reescrevi esse pedaço justamente por causa disso que essa criança me disse.”
Ainda neste ano, o 25º desde que Lázaro começou a escrever para crianças, chega às livrarias mais uma história do autor, que costumava fazer parte de “Sinto o que Eu Sinto”, mas acabou virando um livro à parte. Nessa próxima leitura, ainda sem título definido, ele fala de ancestralidade, isto é, da importância de saber sobre seus antepassados.
Sinto o que Eu Sinto
Autoria: Lázaro Ramos e Flávia Borges. Ed.: Sextante. R$ 59,90 (48 págs.)
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