“Sinner” quer dizer pecador em inglês. Só isso já faria da audiência entre o papa Leão 14 e o tenista número um do mundo, nesta quarta-feira, um prato cheio para trocadilhos infames. Junte-se a isso o fato de Jannik Sinner ter acabado de pagar uma penitência de três meses por doping, e o encontro ganha interpretações ainda mais sutis.
Sinner presenteou o papa, que é praticante de tênis, com uma raquete de aro e cabo preto e branco. Leão 14 perguntou se era a mesma que ele usa para jogar. “Muito parecida, só a cor é um pouco diferente, mas o resto é tudo igual.”
O tenista mostrou ao pontífice uma bola de tênis e perguntou se ele queria bater bola. “Aqui, melhor não”, respondeu o papa. “Em Wimbledon, você me deixaria jogar?” perguntou, provocando risos.
A audiência, a primeira de Leão 14 com um atleta de alto nível, ocorreu na antessala do auditório Paulo 6º, onde o papa tinha um encontro um grupo de milhares de católicos de países latinos e orientais.
Na segunda-feira (12), o papa havia feito uma brincadeira, durante encontro com jornalistas no mesmo local, quando foi “desafiado” para uma partida beneficente de tênis: “Só não levem o Sinner!”
O tenista estava acompanhado dos pais, Hanspeter e Siglinde, e do presidente da Federação Italiana de Tênis, Angelo Binaghi.
O papa perguntou ao pai de Sinner se eles falam em casa em alemão ou italiano. “Alemão”, respondeu Hanspeter. Sinner nasceu muito perto da fronteira da Áustria, na região do Trentino-Alto Ádige, onde há muitos italianos de origem germânica.
Assim que o cardeal Robert Prevost, 69, tornou-se sumo pontífice, na semana passada, a imprensa internacional noticiou que ele gosta de jogar tênis. O conclave que o elegeu coincidiu com o Aberto de Roma, cuja principal estrela é justamente Sinner, primeiro italiano a alcançar o posto de líder do ranking mundial. Ele está classificado para as quartas de final do torneio, que termina no fim de semana.
Com tamanha coincidência, um encontro entre o “pecador” e o papa tornou-se quase obrigatório, além de excelente oportunidade para Sinner limpar um pouco sua imagem, manchada pelo episódio de doping.
Um teste no torneio de Indian Wells, nos EUA, em março de 2024, apontou a presença do esteroide anabolizante clostebol em seu organismo. Sinner alegou que a substância estava em um creme usado por seu fisioterapeuta para massageá-lo. A Agência Internacional de Integridade do Tênis aceitou a desculpa, mas a Agência Mundial Antidoping não.
A controvérsia acabou em acordo: Sinner concordou em ficar três meses sem jogar, suspensão que terminou justamente antes do Aberto de Roma, maior torneio de tênis de seu país natal. Diversos tenistas criticaram aquilo que viram como uma punição muito conveniente.
No exíguo espaço do menor Estado soberano do mundo, com apenas 0,49 quilômetro quadrado, há uma quadra de tênis coberta e um estreito campo de futebol, encostados no muro nordeste que separa o Vaticano da capital da Itália. Podem ser vistos das janelas de um dos museus do Vaticano, o Pio-Clementino.
Aproveitando a folga de Sinner, seus torcedores mais ilustres, os Carota Boys, também foram ao Vaticano.
Alberto Mondino, Gianluca Bertorello, Enrico Ponsi, Alessandro de Dominici e Francesco Gaboardi percorrem o mundo vestidos de cenoura (em italiano, “carota”), em referência ao apelido que Sinner ganhou, por ser comprido e ruivo.
Os Carota Boys não foram recebidos pelo papa. Tiveram que se contentar em fazer vídeos e fotos na praça São Pedro.
“Pode escrever aí: lançamos o convite ao papa para uma partida”, disse Bertorello à Folha.
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