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Investimentos privados em infraestrutura superam alta dos públicos


O investimento em infraestrutura bateu recorde no Brasil em 2024: foram R$ 260,6 bilhões, deixando para trás o pico anterior, de R$ 240,7 bilhões, registrado dez anos antes. Quem garantiu a marca foi o setor privado, que aumentou os investimentos em 22,3% em relação a 2023. Os desembolsos do setor público (União, estados e municípios), enquanto isso, caíram 7,6%.

Segundo estudo da consultoria EY em parceria com a Associação Brasileira de Infraestrutura e de Indústria de Base (Abdib), a participação privada tem oscilado entre 70% e 74% do total investido desde 2020. O patamar é similar ao de países desenvolvidos.

Uma série de problemas, entretanto, ameaça os futuros projetos privados: taxas de juro elevadas, confiança de investidores em baixa e problemas com a segurança jurídica.

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“O Brasil tem mais de 500 projetos em estruturação, somando R$ 800 bilhões”, explica a Abdib. Esse potencial de expansão, no entanto, depende da manutenção da estabilidade econômica e da redução das barreiras que ainda travam a competição.

De acordo com o estudo, pela primeira vez as rodovias lideram as expectativas de investimento, ultrapassando o saneamento. As ferrovias registraram alta real de 61,1% nos investimentos em 2024, atingindo R$ 17,9 bilhões. A projeção para 2025 é de R$ 20 bilhões – 98% vindos da iniciativa privada. Portos e aeroportos também mantêm trajetória ascendente, impulsionados pelas concessões privadas.

Governo federal reduz participação nos investimentos em infraestrutura

Os investimentos públicos em infraestrutura caíram para R$ 48,5 bilhões em 2024. O déficit estrutural das contas públicas, especialmente no nível federal, compromete a capacidade de investimento em setores que demandam muito capital.

O relançamento do Programa de Aceleração do Investimento (PAC) em agosto de 2023, com previsão de R$ 1,7 trilhão, não empolgou o mercado. Pesquisa da EY e Abdib revelou que 79,2% das empresas privadas de infraestrutura não participam do programa. As principais queixas são desalinhamento com estratégias empresariais e problemas nas modalidades de licitação.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desembolsou R$ 49,9 bilhões para infraestrutura em 2024. Apesar da relevância como estruturador de projetos, a atuação isolada do banco não compensa a ausência de investimento público direto.

Obstáculos podem comprometer crescimento

Especialistas alertam para fatores que podem fazer os investimentos “entrarem em colapso”:

  • Taxa de juros elevada: Com a Selic em 15% ao ano desde junho, o custo de financiamento para projetos de infraestrutura tornou-se proibitivo, especialmente em transporte e saneamento.
  • Crescimento econômico em desaceleração: O mercado projeta expansão de 2,2% para este ano, segundo o boletim Focus do Banco Central. Será a primeira vez em quatro anos que o PIB crescerá menos de 3%.
  • Investimentos produtivos limitados: Mesmo com crescimento de 8,8% nos 12 meses concluídos no primeiro trimestre, a formação bruta de capital fixo representa apenas 17% do PIB – abaixo do necessário para sustentar crescimento robusto.
  • Confiança dos investidores em queda: O Barômetro da Infraestrutura, pesquisa da Abdib e EY, mostra que apenas 40,6% dos investidores mantêm visão favorável para os próximos seis meses – queda de 12,3 pontos percentuais em relação à sondagem anterior. O pessimismo sobre o crescimento econômico saltou de 18,7% para 35%, interrompendo a tendência de recuperação observada desde 2023.
  • Segurança jurídica preocupa: Apesar de 32,1% avaliem positivamente o ambiente legal para concessões e parcerias público-privadas, 13% consideram a situação “péssima” – o maior percentual das últimas edições da pesquisa. Metade dos entrevistados (50,5%) classifica como “péssima” a resposta do governo federal à carência de servidores nas agências reguladoras e no Ibama.

Outro obstáculo que preocupa é a falta de mão de obra para a infraestrutura. Uma pesquisa divulgada em maio pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) aponta que, em maio, 30,6% das empresas consideravam essa situação como uma dificuldade relevante.

O futuro da infraestrutura: 8 pilares para o Brasil avançar

Para modernizar a infraestrutura nacional, especialistas da CNI e Inter.B Consultoria propõem agenda com oito pilares fundamentais:

  • transformar infraestrutura em política de Estado, com visão de longo prazo;
  • ampliar investimentos públicos com racionalidade econômica;
  • implementar análise rigorosa de custo-benefício para todos os projetos;
  • garantir segurança jurídica para atrair capital;
  • fortalecer agências reguladoras, garantindo sua autonomia e capacidade técnica;
  • expandir participação do mercado de capitais;
  • reforçar o BNDES como estruturador; e
  • elevar investimentos para 4% do PIB em uma década.

A COP30, que acontece no final do ano em Belém, representa oportunidade para atrair investimentos em infraestrutura sustentável, mas 52,6% do mercado não espera compromissos relevantes do evento. O Plano Clima, lançado no ano passado, estabelece meta de neutralidade de carbono até 2050, mas sua efetivação depende de avanços na governança e estabilidade regulatória.

O Brasil é identificado como um mercado promissor para investimentos em infraestrutura sustentável, desde que haja avanços na governança pública, capacidade técnica e estabilidade regulatória.



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