Passei oito manhãs das duas últimas semanas praticando biatlo no Cepê, o clube da USP. Um biatlo leve: em geral, 500 metros de natação e 3km de corrida, primeiro na pista de atletismo, depois na trilha de terra que envolve o clube.
No dia mais exigente foram 25 minutos de cada modalidade, o que, no meu caso, significaram 600 metros na água e 5,4 km de cascalho.
Como aconteceu em anos anteriores, a evolução na piscina, meu ponto fraquíssimo, foi diária. Se no primeiro dia mal consegui terminar os primeiros 50 metros de extensão da piscina olímpica, atormentado por uma fobia que às vezes ressurge após longos períodos longe da água, ao final já testava a respiração em quatro tempos no crawl.
Daí para debutar nas provas intermediárias de triatlo, como a Triday Series, do mesmo organizador do IronMan Brasil, Carlos Galvão, seria um passo natural.
Mas essas competições acontecem em águas abertas, em que não há apoios para descansar a cada 50 metros, como os da piscina olímpica.
Não sei se isso é uma variável realmente limitadora, mas é justamente essa necessidade de interromper o nado de tempos em tempos que faz com que eu não me veja disputando o Triday ou até mesmo o meio Iron, em que a natação bate no 1,9 km.
Há um meio Iron também na USP, em setembro, com a prova de natação sendo praticada na raia olímpica. Já as Triday Series têm três formatos diferentes, com a natação em distâncias de 375, 750 e 1.500 metros.
Além de São Paulo, o meio Iron, ou, oficialmente, 70,3 (a soma de milhas percorridas nas três modalidades), acontece em Brasília, Rio, Florianópolis e Aracaju. O Triday tem duas etapas em Bertioga, com a natação no mar, e uma em Sorocaba, com o crawl no lago do parque Porto das Águas.
(Tou dando de barato que minha bicicleta Indie, de limitadas 21 marchas, cumpra minimamente com suas obrigações caso eu participe de uma dessas competições; quem mandou estacionar a anterior, surrupiada em plena luz do dia, num paraciclo oficial do parque Ibirapuera?)
Pode parecer estranho que este colunista, que professa uma posologia de corrida desambicionada, totalmente desconectada de provas –como já disse aqui, treino é prova, e vice-versa–, que vê no “rodar” algo tão valioso quanto a suposta evolução na corrida, confesse seus desejos e temores sobre uma ou outra prova competitiva.
É que é quase impossível não se deixar seduzir pelo novo e pelo supostamente desafiador –no meu caso, uma competição que contemple a natação.
Agora talvez eu comece a entender por que tantos se submetem ao fetiche da maratona, uma mera justaposição de quilômetros de corrida, um número arbitrário que é cultuado por alguma razão de ordem cultural que certamente nos escapa a todos.
Não é comum correr mais de duas ou três horas, e aqueles que o fazem estão em geral treinando justamente para a maratona. Em certo momento da prova, lá pelo 35km, 36 km, entra-se num território desconhecido, já que o maior “longão” pregresso não passa disso.
Mas quando encaramos esses desafios inéditos, o que está em jogo é bem outra coisa. Na ausência de grandes desafios de ordem moral, dos quais quero crer que nos afastamos cada vez mais, sobra para o esporte, por mais fetichista que seja a prova praticada, um lugar relativamente seguro para enfrentar nossos demônios.
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