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dólar e safra ajudam, mas EUA e China são incerteza



A cotação do dólar e a expectativa de safra recorde tendem a ajudar as exportações brasileiras em 2025. Ao mesmo tempo, porém, uma série de incertezas pode afetar as vendas do país.

Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que externamente, destacam-se os riscos de barreiras tarifárias nos Estados Unidos, a desaceleração econômica da China e a possível guerra comercial entre as duas maiores economias mundiais, além de dificuldades no comércio com a vizinha Argentina. Dentro de casa, a desaceleração da economia brasileira e possíveis efeitos da reforma tributária também podem afetar negativamente as exportações e importações.

Embora a moeda norte-americana tenha caído abaixo de US$ 6 nos últimos dias, em reação aos primeiros dias de governo Trump nos EUA, a tendência é de que a moeda passe o ano bem acima da cotação média de 2024 – de R$ 5,39, segundo o Banco Central.

Segundo o mais recente boletim Focus, a mediana das expectativas do mercado é de que o dólar feche o ano em R$ 6. O câmbio é uma das variáveis mais difíceis de prever, pois sofre influência de fatores os mais diversos, tanto internos – como a situação fiscal do país, por exemplo – quanto externos, como as ações e declarações de Trump demonstram, até tensões no Oriente Médio.

A combinação dessas situações traz sinais mistos para a economia brasileira. De um lado, o dólar próximo de R$ 6 tende a favorecer as exportações, tornando os produtos nacionais mais competitivos no mercado internacional e aumentando os ganhos dos exportadores na conversão cambial; do outro, encarece as importações, o que pode reduzir o volume de compras externas.

Julia Gottlieb, economista do Itaú Unibanco, afirma que os benefícios da depreciação cambial na balança comercial tendem a ser sentidos no médio prazo, geralmente entre um e dois anos.

Um dos pontos que podem ajudar a dar um empurrãozinho nas exportações são as expectativas favoráveis para a safra. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta que serão colhidas 166,3 milhões de toneladas de soja, 12,6% a mais do que no ano anterior. O produto é o segundo mais importante da pauta de exportações.

Mas há um problema que pode afetar o comércio exterior brasileiro: as expectativas para a economia brasileira. Pela primeira vez em quatro anos, a sinalização é de um crescimento abaixo de 3%.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central deve promover novas altas na taxa de juros. Atualmente, a Selic está em 12,25% e o ponto médio das expectativas do mercado financeiro, apresentadas pelo boletim Focus, do Banco Central, sinaliza para 15% no fim do ano.

Também há preocupações com a reforma tributária. Embora tenha como objetivo simplificar o sistema tributário, pode trazer custos de adaptação para as empresas, afetando a competitividade de produtos brasileiros no mercado internacional.

José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), ressalta a complexidade de traçar projeções para 2025, dada a imprevisibilidade de variáveis econômicas e políticas.

Apesar disso, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) estima um superávit comercial entre US$ 60 bilhões e US$ 80 bilhões para o ano. No ano passado, o saldo positivo foi de US$ 74,6 bilhões.

“No mundo hoje está muito difícil conseguir prever alguma coisa, porque existem uma série de variáveis que podem influenciar positivamente ou negativamente o resultado da balança comercial”, diz Castro.

A gerente de Comércio e Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Constanza Negri, prevê um desempenho mais favorável para as exportações, impulsionado pela desvalorização do real. Segundo ela, espera-se que a economia mundial demande mais produtos brasileiros, especialmente alimentos.

Governo Trump e possíveis impactos na balança comercial do Brasil

A possibilidade de aumento de tarifas americanas sobre importações preocupa, especialmente se incluir produtos brasileiros. Caso a alta na taxação inclua o Brasil, Arno Gleisner, diretor da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil, avalia que o superávit da balança pode pender para a banda mais baixa das estimativas, próximo dos US$ 60 bilhões.

No ano passado, as exportações brasileiras para os EUA cresceram 9,2%, alcançando US$ 40,33 bilhões, enquanto as importações de produtos norte-americanos subiram 6,9%, totalizando US$ 40,58 bilhões.

Constanza Negri, da CNI, destaca a importância dos EUA como parceiro comercial do Brasil, especialmente em produtos de maior intensidade tecnológica e no comércio de serviços. Ela avalia que, caso o Brasil seja poupado de novas tarifas, as estimativas mais otimistas para a balança comercial podem se concretizar.

A secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, avalia que o saldo da balança favorável aos EUA deve fazer com que o Brasil seja poupado do aumento tarifário por parte do governo Trump.

China: desaceleração alimenta incertezas econômicas

A China, principal parceiro comercial do Brasil, enfrenta uma desaceleração econômica. Estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que o PIB da segunda maior economia global cresceu 4,8% no ano passado. Para este ano, a projeção é de um crescimento de 4,6% e para o próximo, 4,5%.

O cenário pode afetar diretamente as exportações brasileiras, sobretudo de minério de ferro e soja. Em 2024, o total de vendas externas para o país asiático recuou 9,5%, totalizando US$ 94,41 bilhões. As receitas com minério de ferro tiveram leve recuo, de 0,89%. A maior queda foi da soja, de 19%.

Gleisner, da Cisbra, observa que a desaceleração chinesa é parcialmente compensada pelo foco do país no consumo interno, favorecendo as importações de alimentos e commodities brasileiras.

Medidas de estímulo econômico anunciadas pelo governo chinês, especialmente voltadas para o setor de construção civil, podem voltar a impulsionar a demanda por minério de ferro brasileiro.

Incertezas econômicas também nas relações com a Argentina

A Argentina, terceiro maior parceiro comercial do Brasil, enfrenta desafios econômicos que afetam o comércio bilateral. Segundo estimativas do Itaú, o PIB do país caiu 1,6% no ano passado. As exportações brasileiras para o país vizinho recuaram 17,6%, totalizando US$ 13,78 bilhões.

A concorrência com a China também é um fator de preocupação. O país asiático tem intensificado suas exportações para a América do Sul, buscando diversificar mercados diante da possibilidade cada vez maior de restrições aos negócios com os Estados Unidos.

A estratégia pode se intensificar diante de um recrudescimento das barreiras comerciais entre Washington e Pequim, avalia Gleisner. No ano passado, a China reforçou seus embarques para outras regiões, incluindo a América do Sul, a fim de contrabalançar a queda das exportações para os EUA.

Por outro lado, as relações com o país vizinho também podem se deteriorar devido à uma aproximação entre Milei e Trump. Na quinta-feira (23), o presidente argentino afirmou que é possível avançar em novos acordos de livre comércio fora do Mercosul sem necessariamente deixar o bloco comercial.



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