The New Yorker, talvez a melhor revista semanal do mundo, está envelhecendo depressa demais. Há não muito tempo fez 50 anos, e, agora, acaba de completar 100. Que rápido! Imagine que, outro dia mesmo, em 1975, eu estava escrevendo no Jornal do Brasil sobre os 50 anos dela. Começava assim:
“Deve ser fácil. Você se chama Harold Ross e tem a fórmula perfeita para fazer a melhor revista do mundo. Com 50 mil dólares na mão e alguns anunciantes, já pode até botar o primeiro número na rua. Contrate Robert Benchley, Dorothy Parker, James Thurber, Alexander Woollcott, George S. Kaufman, E.B. White, Edmund Wilson, e os ponha para escrever. Com esta gente na Redação, só falta agora descobrir os leitores. Ia me esquecendo: o ano tem de ser 1925 e a cidade, Nova York. Senão, a revista não poderá se chamar The New Yorker”.
Na verdade, não foi tão fácil. Esses nomes só aos poucos se juntaram à revista e fizeram dela uma publicação a ser lida de capa a capa. Ross, um primitivo genial, revolucionou o jeito de produzir capas, colunas de serviço, reportagens, perfis e cartuns. The New Yorker era séria e, ao mesmo tempo, de humor. “Se não puder ser inteligente, seja engraçado”, ele dizia aos redatores. Nenhuma outra conseguiu reproduzir esse, perdão, blend.
Em 1975, quando eu a devorava semanalmente, Brendan Gill ainda era chefe de Redação; Katharine White, chefe dos copy-desks; Charles Addams, principal cartunista; Saul Steinberg, capista frequente; Janet Flanner, correspondente em Paris; Pauline Kael, crítica titular de cinema; Whitney Balliett, crítico de jazz; e Jorge Luís Borges, John Updike e J.D. Salinger, colaboradores. Acima de todos, William Shawn, seu editor, sucessor de Ross e o jornalista mais respeitado de Nova York.
Em 1974, casualmente, almocei com Shawn no Hotel Algonquin. Eu, numa mesa; ele, na mesa ao lado, com amigos, falando do estilo da revista. Ele não sabia que eu estava almoçando com ele —e, ao beber cada uma de suas palavras, aprendendo a escrever.
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