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Boulos faz meio de campo entre Lula e sindicalistas



Em meio a rumores de uma iminente indicação como ministro de Lula, Guilherme Boulos (PSOL-SP) atua como intermediário em uma relação de conflito. Autor do projeto que propõe a estatização da maior fabricante de armamento pesado do Brasil, a gigante em crise Avibras Indústria Aeroespacial, Boulos precisa conciliar a vontade dos sindicalistas de torná-la pública e a relutância do governo em pagar por isso.

Na véspera de uma reunião na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, Boulos defendeu o projeto na manhã desta terça-feira (14) e apelou a um tema caro aos petistas: a soberania. “O Brasil pode perder sua maior empresa de defesa. E quem vai ganhar com isso são os EUA de Donald Trump”, escreveu.

Mas, em busca de fontes de arrecadação contra o rombo em ano eleitoral, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva não parece disposto a abrir mão dos mais de R$ 600 milhões que a empresa deve à União. E muito menos desembolsar o montante necessário para reabilitá-la.

Fundada em 1961, a Avibras é considerada a maior empresa privada de sistemas de defesa do Brasil. Ela produz, por exemplo, uma das armas mais valiosas que as Forças Armadas possuem: os lançadores de mísseis Astros II, que são armamentos parecidos com o Himars americano, que foi crucial para conter a ofensiva russa na Ucrânia em 2022.

A empresa brasileira possui dívidas milionárias e entrou em recuperação judicial para reverter a crise financeira. Sua venda para uma empresa de capital estrangeiro, contudo, tem aparecido como única saída viável para que a companhia não feche as portas de vez. 

A situação econômica caótica foi exposta pelo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Weller Gonçalves, na página da agremiação. De acordo com ele, o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e o ministro da Defesa, José Múcio, manifestaram clara intenção de não estatizar a empresa e apostar em ”soluções de mercado”.

Proposto em 2024, o Projeto de Lei (PL) 2957/2024 nunca avançou na tramitação e a cobrança dos sindicalistas veio forte. “Será que Boulos levaria a fundo uma campanha como esta? Será que bateria de frente com o seu chefe para defender os trabalhadores e os interesses do país e a soberania nacional?”, escreveu Gonçalves em um post de junho.

Boulos busca diálogo com tema de Defesa e Segurança

A questão tem no fundo um viés ideológico. Boulos é conhecido pela defesa de causas populares, por invasões de propriedades privadas e pela associação com movimentos populares de moradia, como o dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).

A estatização da Avibras pode ser uma oportunidade de construir diálogo com uma pauta ligada à Segurança e Defesa. O deputado participou em agosto de uma live no “Arte da Guerra”, canal de temática bélica onde tratou do tema.

Encampar a estatização da gigante das armas poderia construir politicamente um diálogo com parte do eleitorado conservador e, ao mesmo tempo, aproveitar sua influência com as classes populares para capitalizar a mobilização do sindicato em torno do tema, avaliou um dirigente do PSOL ouvido pela Gazeta.

Caravana para Brasília

Ligado ao PSTU, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo fretava na segunda-feira caravanas para ir do ABC Paulista a Brasília para pressionar pela estatização da empresa. Números da associação indicam que 1.400 pessoas estariam com salários atrasados e em vários meses de greve.

A crise que assola a Avibras ocorre há muitos anos. Em março de 2022, a companhia pediu recuperação judicial alegando ter uma dívida de R$ 600 milhões. Em julho de 2023, credores aprovaram o plano de recuperação — o processo tem como objetivo evitar que a empresa feche enquanto negocia com seus credores. 

A própria Avibras é contra a sua estatização. A empresa foi procurada para comentar o assunto, mas seu contato de imprensa não foi localizado. Em seu último comunicado, de setembro, a Avibras informa que seu processo de recuperação segue em curso e que “foram retomadas atividades essenciais, realizadas visitas e reuniões técnicas com os principais clientes, e foi iniciado o planejamento para restabelecer a plena capacidade da Avibras após três anos de paralisação”.



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