terça-feira , 28 outubro 2025
| Cidade Manchete
Lar Economia benefício a BYD pode custar 50 mil empregos
Economia

benefício a BYD pode custar 50 mil empregos



Investimentos de R$ 60 bilhões previstos pela indústria automobilística e de autopeças para serem realizados até 2030 podem não se concretizar e resultar no fechamento de até 50 mil postos de trabalho com carteira assinada. É o que vai acontecer, segundo montadoras, caso o governo atenda a um pedido da chinesa BYD.

A empresa solicita uma redução no Imposto de Importação de veículos desmontados, o que despertou reação contrária de fabricantes tradicionais instalados no país. A polêmica deve ser decidida nesta quarta-feira (30) pelo Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Camex).

A BYD – que está investindo R$ 5,5 bilhões para implantar uma fábrica em Camaçari (BA), no antigo complexo da Ford – solicitou ao governo uma redução do imposto de importação sobre seus kits de veículos: de 20% para 10% em carros híbridos e de 18% para 5% nos elétricos.

A proposta, que está sendo avaliada no Palácio do Planalto pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, ex-governador da Bahia, criaria uma situação tributária mais vantajosa no Brasil do que na própria China.

Do outro lado, as montadoras já estabelecidas e toda a cadeia de autopeças alertam que a mudança nas regras no meio do jogo pode forçar uma reavaliação completa dos investimentos anunciados e de geração de empregos com carteira assinada.

Em jogo não estão apenas cifras bilionárias, mas a própria natureza da indústria nacional: executivos do segmento apontam que o risco é que o Brasil se transforme em uma mera plataforma de montagem, uma “maquila” de baixa complexidade, sacrificando empregos qualificados e desenvolvimento tecnológico local.

A BYD anunciou o Dolphin Mini produzido na Bahia como seu primeiro “carro 100% elétrico brasileiro”. Mas, ao menos por enquanto, o que há de mais brasileiro no modelo é o endereço da montagem final. Na prática, é um veículo em grande parte chinês. E pode continuar sendo, caso o governo Lula atenda ao pedido da montadora chinesa.

A disputa entre as montadoras já instaladas e a fabricante chinesa ocorre em um momento delicado das relações comerciais globais.

A reunião do Camex acontece apenas dois dias antes da entrada em vigor de novas tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, em um sinal do crescente protecionismo global. Ao mesmo tempo, o governo brasileiro tem dado sinais de uma maior aproximação com a China, um regime com forte planejamento central e práticas comerciais frequentemente questionadas.

Setor diz que R$ 60 bilhões em investimentos e 50 mil empregos estão em risco

As implicações econômicas da decisão podem ser grandes, apontam as montadoras. Dos R$ 180 bilhões em investimentos planejados, as montadoras alertam que R$ 60 bilhões podem ser cortados caso a proposta seja aprovada. O impacto no emprego seria igualmente severo. As fabricantes de veículos estimam que 10 mil contratações diretas deixariam de ocorrer e que outros 5 mil postos de trabalho atuais estariam em risco.

O efeito se estenderia por toda a cadeia produtiva, uma vez que a indústria automotiva possui um grande efeito multiplicador. Carta enviada pelos CEOs de quatro grandes montadoras – Volkswagen, Stellantis, GM e Toyota – ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aponta que para cada emprego fechado em uma linha de montagem, outros dez podem ser eliminados entre os fornecedores de autopeças e serviços. Pelas contas do setor, o corte total poderia chegar a 50 mil postos de trabalho.

Alguns sinais de retração já apareceram, com o fechamento de 600 vagas em junho. O volume de carros importados apenas no primeiro semestre, de 228,5 mil unidades, já equivale à produção anual de uma fábrica de grande porte com 6 mil funcionários, aponta a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Ofensiva de carros chineses: invasão de importados e o domínio nos elétricos

A discussão ocorre em meio a uma ofensiva comercial sem precedentes das marcas chinesas no Brasil. Lideradas por BYD e GWM, e com o retorno da Geely após nove anos, as empresas exploram um mercado local pressionado por juros altos e inadimplência.

Os números demonstram a força dessa estratégia: as importações de carros no primeiro semestre de 2025 somaram US$ 3,4 bilhões, quase o total do ano passado inteiro, apontam dados da Secretaria do Comércio Exterior (Secex). Enquanto o emplacamento de veículos nacionais cresceu 2,6% nos primeiros seis meses do ano, o de importados saltou 15,6%, destaca a associação das montadoras.

A “invasão” é, em parte, uma “desova” de produção resultante da acirrada guerra de preços no mercado chinês e no Sudeste Asiático.

O resultado é uma presença cada vez mais dominante. Modelos chineses já representam 5,4% dos emplacamentos totais, à frente de marcas consolidadas como Renault e Nissan, apontam números da Federação Nacional de Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave).

No segmento de eletrificados, o domínio é absoluto: BYD e GWM detêm 45% do mercado de híbridos e mais de 80% do de elétricos puros. Em junho, a BYD liderou as vendas no varejo em 104 cidades brasileiras, incluindo capitais como Brasília (DF) , Maceió (AL) e Porto Velho (RO).

Um estudo realizado em junho pela MegaDealer, consultoria especializada no varejo automobilístico, aponta que as marcas mais afetadas pela atuação da BYD e da GWM no mercado nacional são Jeep, Volkswagen, Chevrolet, Toyota e Hyundai. Essas marcas são as mais substituídas pelas chinesas na hora da compra de um carro novo.

O que é o sistema SKD? Pouco mais do que “apertar parafusos”

É nesse contexto que a proposta de redução tributária para kits se torna tão controversa. O sistema de montagem por kits, conhecido como SKD (Semi-Knocked-Down), é um modelo de produção de baixa sofisticação. Na prática, conjuntos pré-montados chegam da China e o trabalho local se resume a pouco mais do que “apertar parafusos”, com mínima contratação de fornecedores locais e geração limitada de empregos.

Para a Anfavea, isso criaria um “desequilíbrio concorrencial”. Indústrias estabelecidas operam com uma estrutura de custos completa — capital, mão de obra, logística e uma vasta cadeia de fornecedores locais —, enquanto o novo modelo permitiria a um importador “pilhar o mercado brasileiro com uma fachada de produção nacional”, nas palavras da associação.

Indústria reage e montadoras pedem previsibilidade nas “regras do jogo”

A reação do setor produtivo foi imediata e contundente. Na carta enviada a Lula, CEOs de montadoras do país (VW, GM, Stellantis e Toyota) foram diretos: a medida coloca em risco um ciclo virtuoso de fortalecimento industrial.

Eles argumentam que a importação facilitada de conjuntos não seria uma “etapa de transição” para uma produção mais robusta, mas um padrão que tenderia a se consolidar, atrofiando o processo produtivo nacional. O legado, segundo eles, seria de “desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica”.

Igor Calvet, presidente da Anfavea, reforça um ponto central para qualquer investidor de longo prazo: previsibilidade. “O setor automotivo se move pela previsibilidade e essa instabilidade é preocupante em um contexto global turbulento”, afirmou.

Segundo ele, os investimentos anunciados são cruciais para agregar valor, modernizar o portfólio de produtos e gerar empregos de qualidade. A mudança de regras com o jogo em andamento, defende, força as empresas a reavaliar seus planos.

A justificativa da BYD para o pedido

A BYD, por sua vez, defende a proposta. O vice-presidente, Alexandre Baldy, argumenta que não é justo que um produto que receberá custos adicionais no país, como mão de obra, tenha a mesma tributação de um veículo pronto. “Não podemos jogar dinheiro fora”, declarou.



Source link

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Economia

Câmara aprova urgência para votar aumento do judiciário

A Câmara dos Deputados aprovou requerimento de urgência para o Projeto de Lei...

Economia

Governo desiste de “jabuti” para apresentar medidas contra rombo

Uma semana após o anúncio de que iria reenviar ao Congresso algumas...

Economia

Haddad quer acabar com incentivos para painéis solares

Quem apostou na compra de painéis solares para gerar sua própria energia...

Economia

Gmail tem 183 milhões de senhas expostas; saiba se a sua foi afetada

Um novo megavazamento de dados expôs cerca de 183 milhões de endereços...