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Árvore genealógica não é argumento no debate público – 16/02/2025 – Lygia Maria


Um discurso racial perigoso emergiu na última semana. A psicanalista Maria Rita Kehl fez críticas ao identitarismo e, como resposta, foi linchada nas redes sociais a partir do argumento de que, além de branca, seu avô, Renato Kehl, era eugenista.

Walter Salles foi alvo de um artigo de jornal cuja autora observa “cada traço fenotípico” do rosto do cineasta para concluir que, nele, enxerga “a descendência dos que torturaram, estupraram, açoitaram, mantiveram em cárcere meus ascendentes”.

Discurso racial, mas poderia ser racista, ao menos segundo a Convenção Interamericana contra o Racismo: “Racismo consiste em qualquer teoria, doutrina, ideologia ou conjunto de ideias que enunciam um vínculo causal entre as características fenotípicas ou genotípicas de indivíduos ou grupos e seus traços intelectuais, culturais e de personalidade”.

Há quem argumente, e o Brasil encampa esta tese com o artigo 20-C da lei 14.532 de 2023, que o racismo se daria apenas contra grupos historicamente oprimidos —logo, brancos não podem ser vítimas. Mas essa interpretação não é unanimidade no campo jurídico e das ciências humanas.

Isso porque, ao atrelar aspectos morais ou comportamentais a traços biológicos, o discurso identitário repete a base de onde brotam as falácias de doutrinas usadas para subjugar negros, mulheres e homossexuais ao longo de séculos: “negros são violentos”, “mulheres são burras”, “homossexuais são doentes mentais”.

Essa mania de puxar a árvore genealógica do interlocutor como quem puxa uma ficha corrida também mina o livre debate público e prejudica demandas legítimas de grupos minoritários ou socialmente vulneráveis.

Se todo branco, ou homem ou heterossexual, é inimigo, como angariar vozes e construir consensos sobre temas que afetam a todos, como liberdade de expressão, desigualdade econômica e a qualidade dos serviços públicos?

Num regime democrático, é a lógica inclusiva que produz efeitos práticos capazes de garantir e proteger direitos —e a obsessão pela biologia de parte da atual esquerda é uma lógica divisiva.


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