
A China vai impor, a partir de 1.º de janeiro de 2026, medidas de salvaguarda sobre a carne bovina importada, que incluirão cotas específicas por país – incluindo o Brasil – e uma tarifa adicional de 55% para as importações que excederem esses limites, após concluir uma investigação que determinou um “prejuízo grave” à indústria pecuária nacional, informou nesta quarta-feira o Ministério do Comércio.
De acordo com o comunicado divulgado pela pasta, as importações de carne bovina aumentaram significativamente nos últimos anos e existe uma relação causal entre esse aumento e as dificuldades enfrentadas pelo setor doméstico, o que justifica a adoção de medidas de proteção temporárias de acordo com a regulamentação chinesa e as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
As medidas estarão em vigor por três anos, até 31 de dezembro de 2028, e serão aplicadas por meio de cotas anuais por país, que serão ampliadas gradualmente, informou o órgão. Uma vez esgotado o volume atribuído, as importações ficarão sujeitas a uma tarifa adicional de 55%, que se somará aos direitos já em vigor.
O Ministério do Comércio detalhou que as importações dentro das cotas manterão as tarifas atuais e que as cotas não utilizadas não poderão ser transferidas para o ano seguinte. Além disso, durante o período de aplicação, serão suspensos os mecanismos de salvaguarda específicos previstos no acordo de livre comércio entre a China e a Austrália.
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Ficarão excluídos dessas medidas os países em desenvolvimento cuja cota individual não exceda 3% do total das importações e cujo peso agregado se mantenha abaixo de 9%, embora essa isenção possa ser revista se esses limites forem ultrapassados.
Cota brasileira é menor que volume exportado atualmente
O Brasil é o maior fornecedor externo de carne bovina para a China, e por isso terá a maior cota em 2026, com 1,1 milhão de toneladas. No entanto, o número é inferior ao volume exportado pelo Brasil para a China nos primeiros 11 meses deste ano, que foi de 1,52 milhão de toneladas de carne bovina. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) citados pelo portal G1, a China foi o destino de quase metade de toda a carne bovina exportada pelo Brasil em 2025, com total faturado de US$ 8,08 bilhões.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, minimizou a decisão chinesa, dizendo em entrevista à TV Globo que ela “não é algo tão preocupante” porque o Brasil estaria exportando um montante próximo ao da cota – na verdade, o total de 1,52 milhão de toneladas vendidas até novembro deste ano é quase 40% maior que a cota imposta pela China para 2026. Mesmo assim, o ministro afirmou que o governo vai buscar negociar com a China, pedindo, por exemplo, a transferência das cotas de outros países para o Brasil.
O setor agropecuário exportador se manifestou por meio de nota da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). As entidades afirmaram que a medida chinesa “altera as condições de acesso ao seu mercado e impõe uma reorganização dos fluxos de produção e de exportação”.
Objetivo de cotas e tarifas é proteger produtor chinês, diz governo
O objetivo das salvaguardas é “ajudar temporariamente a indústria nacional a superar suas dificuldades” e não restringir o comércio normal, segundo o governo, que garantiu que a China continuará mantendo seu mercado aberto e a cooperação com seus parceiros comerciais.
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A decisão encerra uma investigação iniciada em 27 de dezembro de 2024, a pedido de associações pecuárias chinesas, para avaliar o impacto do forte aumento das importações de carne bovina sobre a indústria local. De acordo com os dados oficiais divulgados na abertura do processo, as compras externas cresceram quase 65% entre 2019 e 2023, e mais de 100% no primeiro semestre de 2024 em comparação com 2019, elevando a cota de mercado da carne importada para mais de 30%.
Durante o processo, o Ministério do Comércio coletou informações por meio de questionários, audiências públicas e verificações no local, com a participação de governos e empresas exportadoras de países como Brasil, Argentina, Uruguai, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos, principais fornecedores do mercado chinês. Em março de 2025, mais de 180 representantes de 75 partes interessadas participaram de uma audiência pública convocada pelas autoridades.
O anúncio ocorre em um contexto de crescentes tensões comerciais internacionais, no qual Pequim ativou ou ampliou investigações semelhantes sobre produtos como carne suína, determinados laticínios ou conhaque proveniente da União Europeia, paralelamente às fricções com Bruxelas por causa das tarifas europeias sobre veículos elétricos chineses. No entanto, o Ministério do Comércio enfatizou que as medidas relacionadas à carne bovina não são dirigidas contra países específicos, mas visam proporcionar um alívio temporário ao setor doméstico para facilitar a sua adaptação.
A China é o maior importador mundial de carne bovina e adquiriu um recorde de 2,87 milhões de toneladas em 2024, de acordo com dados alfandegários. No primeiro semestre de 2025, as importações caíram 9,5% em relação ao ano anterior, em um momento em que o setor pecuário local denuncia pressões prolongadas sobre a rentabilidade e uma redução da capacidade reprodutiva.

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