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entenda a crise da Ambipar


A Ambipar, grupo brasileiro de gestão ambiental e resposta a emergências, pediu recuperação judicial no Brasil nesta terça (21) com uma dívida estimada em R$ 10,7 bilhões e suspeita de transações financeiras irregulares que fizeram as ações da companhia despencarem no mercado financeiro. O pedido também foi acompanhado de uma proteção contra credores nos Estados Unidos, no modelo “Chapter 11”, após o agravamento da crise interna.

A empresa, fundada e comandada por Tércio Borlenghi Neto com a gestora Tanure, de Nelson Tanure, viu a situação financeira se deteriorar rapidamente nos últimos meses após um ciclo de rápido crescimento na última década, com aquisições e expansão internacional em áreas de gestão de resíduos e atendimento a emergências ambientais. Esse avanço agressivo, porém, aumentou o endividamento e expôs a companhia a riscos de liquidez, que vieram à tona em 2025 com a alta dos juros e a queda no volume de contratos públicos e privados.

“O Grupo Ambipar mantém suas operações normalmente e segue oferecendo serviços de excelência, com segurança, eficiência e confiabilidade, em todos os seus segmentos. Sua força de trabalho permanece plenamente mobilizada sustentando milhares de empregos diretos e indiretos, gerando impacto social e estimulando a atividade econômica”, disse a empresa em um fato relevante ao pedir a recuperação judicial.

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No final do mês passado, a Ambipar obteve uma liminar da 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro que suspendeu temporariamente cobranças e pagamentos a credores. O movimento foi interpretado pelo mercado como sinal de insolvência e provocou o rebaixamento da nota de crédito da companhia pela Fitch Ratings, de “BB-” para “C”, nível equivalente a calote técnico.

“Caso a Ambipar anuncie formalmente um plano de reestruturação de sua dívida, as
classificações serão rebaixadas para ‘RD’, a fim de refletir um evento de inadimplência
restrita, ou para ‘D’, se a empresa entrar com pedido de recuperação judicial”, disse a Fitch.

A reação da Bolsa foi imediata: as ações AMBP3 despencaram mais de 20% no mesmo dia. A agência alegou que a suspensão judicial de pagamentos configurava um descumprimento contratual, agravando a desconfiança sobre a capacidade financeira da empresa.

A Ambipar viveu uma ascensão meteórica antes do colapso ao estrear na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, em 2020, durante a pandemia, em meio ao boom de renda variável impulsionado pelos juros baixos. Levantou mais de R$ 1 bilhão em seu IPO e realizou mais de 40 aquisições em poucos anos, em um ritmo que chamou a atenção de analistas e reguladores.

Em 2023, a Ambipar também listou uma subsidiária na Bolsa de Nova York, a Ambipar Response, voltada ao gerenciamento de crises ambientais.

Em 2024 as ações AMBP3 tiveram variações explosivas, acumulando alta de 730% e entrando entre as 40 mais valiosas da B3. O bom desempenho, no entanto, chamou a atenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que cobrou explicações diversas vezes sobre as oscilações atípicas, e a empresa respondeu que “não havia fatos relevantes” que justificassem os picos de preço

O cenário piorou com a renúncia do diretor financeiro, João Arruda, em setembro, em meio a suspeitas sobre contratos de swap e derivativos que poderiam ter causado perdas milionárias. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu investigação para apurar possíveis irregularidades em operações financeiras e recompra de ações pela companhia.

A perda de credibilidade entre investidores e credores forçou a Ambipar a admitir que não conseguiria honrar compromissos imediatos. O pedido de recuperação judicial foi apresentado como “única alternativa” para reorganizar as finanças e tentar garantir a continuidade das atividades.

Enquanto lidava com a crise, a Ambipar também se envolveu em uma polêmica com o governo federal. Em 24 de janeiro de 2025, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, o grupo assinou um protocolo de intenções com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), comandado por Sônia Guajajara, para cooperação em projetos ambientais e de sustentabilidade em terras indígenas.

O acordo foi apresentado como um compromisso de colaboração para ações de conservação, reflorestamento e resposta a emergências climáticas. A Gazeta do Povo procurou o governo, o MPI e a Ambipar para comentarem como fica o protocolo de intenções após o pedido de recuperação judicial e aguarda retorno.

Desde o início da crise, as ações da companhia acumulam queda superior a 50% em 2025, e investidores agora aguardam o plano de recuperação que será submetido à Justiça.



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