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Embrapa cria variedades resistentes a fungo devastador


Falava-se até em extinção da banana. Responsável por uma doença que vem acabando com plantações inteiras da fruta pelo mundo, uma nova cepa do fungo Fusarium oxysporum chegará ao Brasil a qualquer momento. Mas, graças ao trabalho de pesquisadores da Embrapa, o país é um dos únicos no mundo preparados para enfrentar o patógeno.

Duas cultivares de banana desenvolvidas nas últimas décadas pela instituição de pesquisa mostraram-se resistentes à forma mais grave da murcha de Fusarium, a raça 4 tropical (R4T). A confirmação permite que essas variedades, a BRS Princesa e a BRS Platina, sejam utilizadas como barreiras naturais contra a disseminação da doença em escala global.

Já presente em países das Américas, Ásia, África e Oceania, o fungo é disseminado por solo contaminado a partir de sapatos e ferramentas, mudas visualmente sadias e plantas ornamentais hospedeiras. Ao infectar a bananeira, o patógeno bloqueia seu sistema vascular, interrompendo o fluxo de água e nutrientes e matando a planta.

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Conhecida também como mal-do-Panamá, a R4T já foi identificada em pelo menos três vizinhos brasileiros – Colômbia (2019), Peru (2020) e Venezuela (2023), o que fazia com que a chegada da doença ao Brasil fosse apenas questão de tempo.

A preocupação era ainda maior em regiões como o Vale do Ribeira, onde há 30 mil hectares plantados de banana e 70% da economia local depende da produção da fruta.

O fitopatologista Fernando Haddad, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, explica que a BRS Princesa e a BRS Platina foram desenvolvidas ao longo das últimas décadas por meio de melhoramento genético, com foco justamente na resistência ao Fusarium.

Os trabalhos foram iniciados pelos pesquisadores Sebastião Silva e Zilton Cordeiro, hoje aposentados, em uma época em que o problema era a raça 1 do fungo. A primeira cepa identificada do patógeno praticamente acabou com uma variedade chamada Gros Michel, a mais vendida no mundo até a década de 1950.

A maior parte das bananas produzidas no mundo hoje é vulnerável à raça 4, incluindo a Cavendish, variedade de banana nanica mais consumida no mundo.

“O problema da raça 4 é que ela afeta também a nanica, além de ser mais agressiva nas variedades”, explica Haddad.

As cultivares brasileiras foram testadas na Colômbia, em uma parceria da Embrapa com a Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária (AgroSavia). Os experimentos ocorreram na primeira fazenda em que foi identificada a R4T no país, em área cedida pelo proprietário para pesquisas, com vigilância do Instituto Agropecuário Colombiano (ICA).

As mudas foram enviadas à Colômbia em janeiro de 2022 e permaneceram por oito meses in vitro em uma estação do ICA para confirmar a ausência de fungos, bactérias, vírus e nematoides. Após a quarentena, receberam o patógeno em casa de vegetação e seguiram para testes em tanques de água com solo contaminado. Em seguida, passaram para o campo, em área onde a doença também estava presente.

Menos de 1% das bananeiras de BRS Princesa e BRS Platina foi afetado, índice que assegura a resistência à R4T.

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Com a confirmação, diploides – parentes ancestrais das variedades que foram utilizados no melhoramento da espécie – servirão de base para um programa de melhoramento genético na Colômbia para a variedade Cavendish.

Em parceria com a Corporação Bananeira Nacional (Corbana), da Costa Rica, a Embrapa também desenvolve novos híbridos da variedade Cavendish com diploides resistentes à R4T.

A BRS Princesa é uma cultivar de banana maçã, enquanto a BRS Platina, de banana prata, a mais consumida no Brasil. Os testes prosseguem para o lançamento de uma nova cultivar do tipo prata em 2026.

Hoje, segundo o fitopatologista da Embrapa, a BRS Princesa já está amplamente distribuída pelo país e em poucos anos vai dominar o mercado. “Na Ceagesp [Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo] mais de 90% do que é comercializado de banana maçã é Princesa”, diz.

Já a Platina está entrando no mercado. “A gente tem tecnologia e aí o mercado e os produtores vão adotando à medida que vai expandindo o plantio de substituição. Não é um processo rápido, vai ocorrendo ao longo do tempo”, explica.

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