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Mesmo com taxa Selic alta, BC tem desafio para conter inflação



O Banco Central deve enfrentar dificuldades maiores que as previstas para controlar a inflação acumulada em 12 meses, que há pouco atingiu o maior nível em mais de dois anos e segue muito acima da meta de 3% ao ano. Mesmo após seis altas consecutivas na taxa Selic, que a levaram para o maior patamar em 19 anos, a atividade econômica continua demonstrando vigor.

Dois indicadores revelados nesta segunda-feira (19) confirmam esse cenário. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), ferramenta do Banco Central para estimar a temperatura do PIB, superou as expectativas do mercado. Em 12 meses até março, ele subiu 4,2%. O setor agropecuário liderou o avanço, com crescimento de 7,2%. Os serviços, que representam mais de 60% do PIB, avançaram 3,9%, e a indústria registrou alta de 3,2%.

Enquanto isso, o Monitor do PIB, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), apontou crescimento de 3,5% em 12 meses até março. “Os resultados mostram uma disseminação do crescimento entre as diferentes atividades econômicas. O resultado do primeiro trimestre reverte a tendência declinante da economia, que se observava desde o terceiro semestre de 2024”, explica Juliana Trece, coordenadora da pesquisa.

Crescimento além da agricultura

Havia expectativa de que o desempenho econômico no primeiro trimestre fosse impulsionado apenas pela safra agrícola, mas outros setores surpreenderam positivamente.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta colheita de 332,7 milhões de toneladas, 12,1% superior à safra anterior, que foi prejudicada por problemas climáticos.

Segundo o Itaú, outro fator de forte influência foi a demanda de consumo das famílias, impulsionada pelo mercado aquecido e pelo aumento dos rendimentos. O FGV Ibre sinalizou crescimento de 2,7% no primeiro trimestre, comparado ao último de 2024. “Há uma certa estabilidade nos crescimentos dos últimos trimestres”, destaca a instituição.

Setores como indústria e serviços apresentaram resultados positivos em março, superando algumas expectativas, observou o economista Igor Cadilhac, do PicPay.

O mercado financeiro tem demonstrado um pouco mais de otimismo para o PIB de 2025. A última vez que a mediana das projeções esteve abaixo de 2% foi em 17 de abril, conforme o sistema de expectativas de mercado do Banco Central. Atualmente, segundo o boletim Focus, a previsão é de 2,02%.

O governo também revisou ligeiramente para cima sua projeção de crescimento. Nesta segunda, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda elevou a estimativa de 2,3% para 2,4%.

Sinais de desaceleração começam a aparecer

Apesar do cenário positivo, já há indícios de moderação na atividade econômica. Dados preliminares de abril, coletados por instituições financeiras, indicam queda mais acentuada em serviços e no varejo de bens dependentes de crédito.

A principal razão para a esperada desaceleração é o impacto defasado da política monetária restritiva – os efeitos dos juros elevados.

Além disso, o impulso inicial da agropecuária tende a diminuir nos próximos trimestres. Na indústria, o movimento de antecipação de compras, motivado por expectativas de novas tarifas, deve se normalizar. O cenário externo, mesmo com uma trégua temporária na guerra comercial entre EUA e China, continua incerto.

A combinação de inflação ainda pressionada, especialmente em alimentos, o aumento do endividamento das famílias e a manutenção dos juros em patamar elevado deve pesar sobre a atividade na segunda metade do ano.

O IPCA acumulado em 12 meses fechou em 5,53% em abril, o nível mais alto desde 2023. Nesse período, alimentos e bebidas aumentaram 7,81%, também a maior elevação em mais de dois anos. O endividamento e a inadimplência estão em níveis recordes.

Taxa Selic deve ficar alta por período prolongado

A expectativa predominante entre analistas é de que a taxa Selic permaneça em 14,75% ao ano por um tempo considerável. O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira que vê sentido na manutenção dos juros nesse nível por mais tempo.

Ele ressaltou que a autoridade monetária dependerá de novos dados sobre o comportamento da atividade econômica e da inflação para definir o rumo da taxa Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). A próxima está agendada para 17 e 18 de junho.

Cortes nos juros são projetados por alguns analistas apenas para dezembro, enquanto outros só preveem espaço para reduções em 2026.

Apesar do quadro de moderação, a economia conta com alguns fatores que lhe podem dar algum impulso, como uma balança comercial favorável e a possibilidade de novos estímulos governamentais, similares aos já implementados: saque extraordinário do FGTS, ampliação do Minha Casa, Minha Vida e novas regras para o crédito consignado a trabalhadores do setor privado.

O Itaú ressalta, contudo, que há um fator limitante para a concessão de novos estímulos à atividade econômica: a necessidade crescente de maior controle fiscal e das despesas públicas.



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