Alguns leitores ficaram bravos comigo porque fiz uma piada com o PSOL na coluna sobre Daniel Kahneman que escrevi na semana passada. Eu havia dito que, se o prêmio Nobel de Economia, que optou pelo suicídio assistido por estar velho, tivesse feito isso no Brasil, seu espólio quase certamente seria processado pelo partido por etarismo.
Minha admiração pelo PSOL já foi maior no passado do que é hoje. É claro que nunca comunguei com as ideias econômicas da legenda, que me parecem irremediavelmente erradas. Mas sempre vi com bons olhos o papel de vigilância que parlamentares da sigla exerciam sobre colegas de Congresso mais afeitos ao corporativismo e ao toma lá dá cá.
É importante que existam no Parlamento alguns partidos com uma pegada mais ideológica. Desde que não se tornem majoritários —hipótese em que a tarefa de formar consensos, a alma da política, ficaria comprometida—, eles operam como contraponto crítico às legendas convencionais.
Eu receio, porém, que, nos últimos tempos, o PSOL tenha perdido qualquer senso de medida. Confesso que fiquei atônito ao ler na Mônica Bergamo que uma parlamentar do PSOL estava requisitando ao Ministério Público investigação criminal contra uma cantora gospel porque esta pedira a vítimas de agressões que perdoassem seus ofensores.
Sim, a cantora referiu-se explicitamente a vítimas de agressões sexuais, o que representa uma violação ao núcleo dos novos tabus identitários. Mas, até onde vão meus conhecimentos do Novo Testamento, Cristo não fez listas de ofensas que poderiam e que não poderiam ser perdoadas. Para mim, perdoar e ainda oferecer a outra face a um segundo tabefe era uma definição possível de ser cristão.
Não faço coro à cantora. Sou a pessoa menos amigável que conheço a religiões. Mas tentar pôr a polícia no encalço de alguém que só expressou uma visão bem arroz com feijão do cristianismo me parece uma atitude escandalosamente autoritária. Isso talvez explique pelo menos em parte a crise por que passa a esquerda.
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