O governo de Javier Milei está estudando uma proposta para que a Argentina deixe o Acordo de Paris, dias após Donald Trump anunciar que os Estados Unidos vão deixar o principal compromisso mundial sobre mudanças climáticas.
Embora uma decisão final ainda não tenha sido tomada, duas pessoas familiarizadas com as discussões disseram que a Argentina provavelmente seguirá os passos dos EUA, o que a tornará o segundo país a abandonar o acordo assinado por quase 200 nações.
Altos funcionários estão elaborando um memorando interno recomendando a saída, disseram pessoas informadas sobre a situação, após o país ter retirado negociadores da cúpula climática COP29, no ano passado, e ter afirmado que estava reavaliando seus compromissos internacionais com o meio ambiente.
Funcionários públicos estavam tentando dissuadir a equipe de Milei de deixar o acordo, disseram as fontes. Um diplomata argentino afirmou que Milei tomará a decisão final e que “parece muito provável que acabemos saindo”.
A saída, se acordada, representará um grande golpe para os esforços globais de combate às mudanças climáticas. O acordo visa limitar o aumento da temperatura global a bem abaixo de 2°C e, idealmente, a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
A divisão ambiental do Ministério do Interior da Argentina não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
O líder libertário, que nega que os humanos sejam uma causa das mudanças climáticas, condenou na quinta-feira (23) o movimento ambiental global em um discurso no Fórum Econômico Mundial em Davos.
“O ‘wokeismo’ perverteu a ideia básica de preservar o meio ambiente para o desfrute dos seres humanos e transformou-a em um ambientalismo fanático onde os seres humanos são um câncer que deve ser eliminado, e o desenvolvimento econômico é pouco menos que um crime contra a natureza”, disse.
Na segunda-feira (20), Trump assinou uma ordem executiva para retirar os EUA do Acordo de Paris pela segunda vez, tendo saído anteriormente durante seu primeiro mandato. Nenhum outro país deixou o acordo de 2015.
Sair do Acordo de Paris exigiria aprovação do Congresso na Argentina, mas Milei frequentemente contornou o Congresso por meio de decretos de emergência durante sua Presidência.
O ano passado foi o mais quente já registrado, com cientistas dizendo que o mundo está cada vez mais fora do caminho para atingir as metas de temperatura estabelecidas no acordo. Uma retirada poderia afetar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, concluído em dezembro entre Europa e Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que especifica que as partes podem suspender o acordo comercial se um dos signatários deixar o Acordo de Paris.
Um diplomata disse: “A equipe técnica do ministério está tentando explicar que, enquanto Trump pode fazer o que quiser, para a Argentina isso traria consequências”.
Eles também citaram possíveis complicações para a recente candidatura da Argentina para ingressar na OCDE, que defende padrões de política ambiental para os membros.
Críticos argumentaram que a Argentina também arriscaria perder acesso a fluxos de financiamento internacional vinculados ao clima, após receber bilhões nesse tipo de financiamento, e poderia ser excluída dos mercados globais de carbono no futuro. Os países devem apresentar planos climáticos atualizados no próximo mês sob o Acordo de Paris, embora muitos devam perder o prazo.

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